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Storage Area Networks e frigideiras de peixe

Quando os discos internos dos servidores começaram a se tornar um gargalo para o crescimento de alguns sistemas, os engenheiros tiveram a idéia de montar discos externos em dispositivos separados e ligar os servidores com essas máquinas que rodavam os discos. Nesse dia nasceram as Storage Area Networks, mais conhecidas como SAN´s.

A arquitetura mais popular de SAN utiliza o protocolo FCP (Fibre Channel protocol), em que o cabeamento é realizado com cabos de fibra ótica e a “língua” utilizada para conversar nessa rede é SCSI (a mesma utilizada pelos discos SCSI que são ligados diretamente/internamente nos servidores). Normalmente, para simplificar o gerenciamento da estrutura física, são instalados switches de fibra entre os servidores e o storage.

Uma SAN dentro da elipse

Uma SAN dentro da elipse

Para quem lida com redes de computador deve ficar bem óbvia a semelhança com a arquitetura mais comum em redes Ethernet + TCP/IP. O switch de fibra é um primo não muito distante, e que fala outra língua, do switch Ethernet. Os cabos de fibra são os equivalente aos cabos de cobre ou par trançado. A placa HBA é equivalente à placa de rede (e deveria ter um nome mais intuitivo também, como placa de storage ou algo assim).

Mas se as arquiteturas são tão parecidas, porque afinal esses engenheiros reinventaram a roda? Porque não se utiliza a infraestrutura de rede para criar SAN´s? Na verdade existem alternativas que utilizam a infra de rede Ethernet para criar SAN´s, onde o padrão mais utilizado é o iSCSI. Mas quando as empresas começaram a utilizar SAN´s FC, as redes TCP/IP ainda não eram tão confiáveis e nem tinham muita performance. Os engenheiros queriam uma solução que fosse desenhada para operações de I/O para discos, não queriam a gordura que existe nos protocolos de rede e ainda por cima usar uma mídia física que gerasse uma taxa de transferência muito melhor. E por isso reinventaram a roda. Simplesmente fizeram uma roda especialmente para um tipo de estrada.

É aí que entra uma história que um amigo meu me contou uma vez sobre sua avó. A avó dele, sempre cortava o peixe em pedaços menores antes de colocar na frigideira para fritar. Ele então perguntou o porquê disso, já que não via uma razão aparente. A avó dele respondeu rapidamente que ela sempre cortava o peixe em pedaços porque antigamente todas as panelas que utilizava para fritar peixe eram muito menores. Por força do hábito, depois de tantos anos cortando o peixe para que pudesse ser frito, ela continuou preparando o peixe daquele jeito, e talvez nem percebesse que estava fazendo isso.

E é o que eu acho que acontece hoje com SAN´s. Hoje os dispositivos, software e protocolos de redes Ethernet e TCP/IP estão muito mais confiáveis. Hoje já temos o padrão de Ethernet com velocidade de 10 Gbps (a velocidade máxima da fibra ainda é de 8 Gigabits por segundo). É muito mais fácil resolver problemas em redes, já que existem muito mais ferramentas para isso. É muito mais fácil montar uma equipe para cuidar da sua infraestrutura, porque é difícil encontrar profissionais que sejam muito bons para lidar com SAN de fibra (e provavelmente na sua equipe já existem várias pessoas que sabem lidar com redes).

Óbvio que alguns fabricantes de hardware e gerentes de infraestrutura de TI vão defender com unhas e dentes as soluções de fibra. Mas os primeiros são como os fabricantes da faca para cortar o peixe. E os últimos, como a avó do meu amigo.