Ciência da Computação, Análise de Sistemas, Sistemas de Informação, Tecnologia da Informação, Processamento de Dados, Engenharia da Computação. Existem vários cursos que parecem ser a mesma coisa, que parecem ter a mesma finalidade. TEORICAMENTE seriam diferentes. Na prática realmente acabam formando gente para o mesmo mercado. Se você quer trabalhar na área de TI e está em dúvida em qual desses escolher, escolha pela qualidade do curso. Converse com quem estuda ou estudou lá. Sinceramente, não acho que vale a pena escolher um deles pela definição que o curso deveria ter na teoria.
Mas se teoricamente são diferentes, qual é a diferença? Não são cursos para “pessoas que mexem no computador”? Bom, não exatamente. Existem diversas coisas que as pessoas fazem com computadores, que exigem diferentes tipos de habilidades. Diferentes tipos de pessoas.
A divisão que faço abaixo não faz parte de nenhuma classificação oficial de nenhuma organização ou publicação. É só minha opinião, minha forma de classificar e separar essas coisas. Para mim profissionais que lidam com computadores se dividem basicamente em 3 categorias:
- Computólogos
- Tecnólogos
- Usuários
Eu sei que técnologo já tem um significado próprio por conta de alguns cursos existentes no Brasil. Até o final deste post, ignore o significado usual. Só vou usar essa palavra por falta de alguma melhor . Provavelmente isto ficará mais claro se você entender a classificação que eu montei.
Computólogos
Esses são os caras que fazem as coisas que geram comentários do tipo “UAU! Como é que eles fazem isso?”. São eles que fazem algo como o Google, Riverbed, Apontador funcionar. Mas não são eles, especificamente, que desenham e fazem funcionar as telas e botões na tela. Eles fazem o motor do negócio funcionar. Eles geram o efeito UAU, o diferencial tecnológico.
Computólogos são as pessoas que lidam com algoritmos. Mas não o algoritmo que calcula o balancete no seu programa de contabilidade, ou o que fecha o seu pedido no shopping virtual. Estou falando de algoritmos para resolver problemas mais complexos. Soluções para problemas que para a maioria das pessoas parece impossível de resolver. Soluções melhores para problemas que as pessoas resolvem de qualquer jeito, da forma que dá. Algoritmos que possibilitam criar software ou hardware que viabilizam resolver problemas que levariam tempo demais ou consumiriam memória demais. Computólogos são os caras que olham para a estrutura de um problema e sabem aproveitá-lo para gerar uma solução melhor, usando as melhores estruturas de dados, fazendo algumas alterações em algoritmos já conhecidos.
Para resumir, computólogo = matemática + teoria da computação + conhecimento em arquitetura de computadores + capacidade de resolver quebra cabeças + bom senso. Não necessariamente com tudo isso em uma mesma pessoa, mas isso seria o ideal.
Normalmente são encontrados em alguns cursos de Ciência da Computação, Engenharia da Computação ou Matemática Computacional. Alguns ainda podem sair de cursos como Matemática, Estatística ou Física. Mas muitos que se formam nesses cursos não seguem o caminho do Computólogo. No Brasil, alguns vão trabalhar com pesquisa em universidades (às vezes fora do país). A maioria se rende ao mercado e trabalha como Tecnólogo (conforme vou definir abaixo).
O que melhor define um computólogo é a frase do grande Edsger Dijkstra:
Computer science is no more about computers than astronomy is about telescopes.
Tecnólogos
Nesta categoria é que estão os “carinhas da TI”. Normalmente tem cargos como Analista de Sistemas, Analista de Suporte, Gerente de TI, ou afins. Normalmente (nos melhores casos) eles tem um grande conhecimento em um ou outro produto ou ferramenta. É o cara do Oracle, a menina do Lotus, ou a molecada do Java. Eles são a engrenagem principal da área e que tem maior convívio com os usuários. Um convívio nem sempre muito tranquilo.
Normalmente esses caras são lembrados quando algo dá errado. O sistema que tem um bug. O roteador que saiu do ar depois que a tia da limpeza passou Veja Multiuso nele. O backup do banco que leva tempo demais. O profissional bom nessa categoria é o que ninguém sabe que está ali na empresa, porque o cara é tão bom que não surgem problemas muito graves para os usuários. Ele é mais ou menos como os goleiros. Levam a culpa de um jogo perdido mas não recebem crédito por um jogo vencido. É meio chato, mas é assim que a coisa funciona, não vejo muito como mudar isso.
Muitos analistas de sistemas devem achar que não se encaixam nesta categoria, porque afinal, eles tem um diploma de Ciência da Computação e mexem com algoritmos todos os dias. Isso definitivamente não é verdade (para pelo menos 99% dos casos). Se seu trabalho se resume a desenvolver um sistema que coleta dados de alguma forma (como uma telinha de cadastro, por exemplo), armazena em um banco de dados e depois fornece esses dados para consulta (como um relatório, por exemplo), se for pensar bem, você é um grande especialista nessas ferramentas. E não há nada de errado nisso se você faz bem seu trabalho, se gosta dele.
Para resumir, tecnólogo = grande conhecimento nas ferramentas que utiliza + capacidade de diagnosticar causas de problemas + MUITA PACIÊNCIA. Infelizmente, existem muitos que não tem nenhuma dessas características.
Podem ser encontrados em todos os cursos relacionados a tecnologia, e muitas vezes em cursos que não tem relação direta com a área. Em alguns casos, não tem uma formação acadêmica (o que não impede que realizem seu trabalho, quando são bons autodidatas ou procuram por cursos relacionados à ferramenta com que trabalham).
Usuários
Talvez sejam os mais desprezados pelos profissionais de TI, mas também são a razão da existência da área. Normalmente quem paga a conta se encaixa nesta categoria. Na minha opinião são bastante injustiçados. Exigir que todo mundo saiba compilar um kernel de Linux depois de aprender a falar e escrever é um exagero (tá, eu exagerei no exemplo, mas você entendeu o que eu quis dizer).
O grande problema é que a maioria dos produtos é feita pensando primeiro no número de funcionalidades. Na visão do fabricante, o produto precisa ter mais funcionalidades que os produtos concorrentes, ao invés de pensar no usuário. No final você tem uma coisa mais complicada tanto para usuários e profissionais de TI. O que significa mais custos. Mais sobre isto em um post futuro.
Usuários podem ser encontrados em todos os lugares, em todos os formatos, em todas as faixas etárias e classes sociais. Olhe para o seu lado agora. Essa pessoa que você está vendo aí do seu lado provavelmente é um usuário.
Computólogos e o progresso da nação
A grande diferença entre países que vendem mão de obra barata e países que geram tecnologia e inovação é a forma como investem nas pessoas. Investir em computólogos, criar as condições para que esse tipo de profissional se difundisse e fosse recompensado por isso, seria o melhor caminho para um país parar de ser enxergado como possibilidade para offshore com mão de obra barata e ser incluído na lista de países que geram tecnologia.
E nem posso dizer que existe uma culpa do governo, ou dos empresários, ou mesmo dos profissionais. Essa seria uma empreitada realmente arriscada. Mas é o risco de deixar de ser visto como país de carnaval e futebol para um país que gera tecnologia, gera inovação, que não vive apenas correndo atrás e usando o que os outros produzem. Que pára de olhar para o que os outros fazem lá fora e acha que seria impossível qualquer coisa com tecnologia de ponta sendo criada aqui. Um país que começa a exportar produtos com o efeito UAU ao invés de achar que só americanos e japoneses fazem “essas coisas complicadas”.
E você? Também quer construir o futuro?
Atualização: Um pouco do que estou falando sobre computólogos neste link: http://www.ic.unicamp.br/~cid/GOA-pages/motivacao/main.html